- Gerar link
- X
- Outros aplicativos
- Gerar link
- X
- Outros aplicativos
Charles Bukowski: Puro e sem Gelo
Um anti-herói etílico. Há exatos vinte anos após a sua morte, o “dirty old man” (em tradução livre, “velho tarado”) já não é um autor conhecido apenas entre os apreciadores da literatura marginal, mas um escritor amplamente consagrado, objeto de estudos críticos e traduzido nos principais idiomas do mundo.
Charles Bukowski não é só o velho Buk, o velho safado, é um dos mais genuínos candidatos, entre os autores do século XX, ao equívoco estatuto de escritor maldito. Bukowski era um grande poeta e esse talvez seja seu lado mais interessante, mais do que seus porres com mulheres e cigarros relatados em muitos dos seus textos e poemas.
Fascinou gerações que
buscavam uma obra com a qual pudessem se identificar.
Henry Charles Bukowski Jr. (1920-94) foi um poeta, contista e romancista de origem alemã, mas criado na América. Mudou-se para os Estados Unidos aos três anos.
Foi criado em meio à pobreza de Los Angeles, cidade onde morou por cinquenta anos, escrevendo e embriagando-se. Bukowski começou a escrever poesias aos 15 anos, mas só publicou seu primeiro conto em 1944, aos 24 anos de idade. Seu primeiro livro foi publicado em 1955.
Obsceno, machista, antissocial, despudorado tanto no cotidiano como na obra. Bukowski teve uma vida que se resume, de fato, a empregos precários, bebedeiras e mulheres de ocasião.
Ele próprio parece ter propositalmente contribuído para exagerar um tanto a sua fama de alcoólico, pobre, vagabundo, desregrado.
Sua literatura é extremamente autobiográfica de
estilo simples, livre, coloquial, e de uma aparente forma desleixada com a
escrita, sem maiores preocupações estrutural. Abordando temas como:
prostitutas, alcoolismo, corridas de cavalos e experiências pessoais.
Ao longo de sua vida, publicou mais de 45 livros de poesia e prosa. São seis os seus romances. Bukowski publicou em vida oito livros de contos e histórias, alguns ainda permanecem inéditos no Brasil.
Várias antologias, além de livros de poemas, cartas e histórias foram
publicadas postumamente, como “O capitão saiu para o almoço e os marinheiros
tomaram conta do navio”. Este livro é uma espécie de diário comentado dos
últimos anos de vida do autor.
Charles Bukowski divide opiniões, para alguns apenas
um vestígio da geração beat, (embora nunca tenha se associado com outros
representantes beat como Jack Kerouac e Allen Ginsberg), para outros — como o
filósofo francês Jean-Paul Sartre — “O maior poeta da América”.
Exagero ou não, a verdade é que mesmo após 20 anos
de sua morte, ele continua dialogando com muitos “anjos caídos” (uma expressão
dele).
Em 1985, casa-se com a última das muitas mulheres da
sua vida, Linda Lee, que ficou conhecida nos livros do marido como “a mulher
que me deu mais dez anos de vida”. Ela introduziu vitaminas na dieta de
Bukowski, cortou carne vermelha, incluiu bebidas de qualidade e o ensinou a
meditar.
Os seus últimos anos de vida foi um combate contra
sucessivas doenças: cancro de pele, tuberculose e, finalmente, leucemia. Morre
na cidade de San Pedro, Califórnia, no dia 9 de março de 1994, aos 73 anos de
idade, pouco depois de terminar Pulp.
Se você não conhece a poesia do Velho Buk, “ Passáro Azul” é um bom começo. A poesia do escritor retrata muitas das suas angústias existenciais, sentimentos sobre o amor e críticas ao sistema literário. Os versos abaixo de “Pássaro Azul” mostram uma faceta sensível de Bukowski.
Apreciem o velho Hank, sem moderação.
PÁSSARO AZUL
Há um pássaro azul no meu coração que quer sair, mas
eu sou muito duro com ele, eu digo, fica aí dentro, não vou deixar ninguém te
ver.
Há um pássaro azul no meu coração que quer sair mas
eu despejo whisky nele e inalo fumaça de cigarro e as putas e os garçons dos
bares e os funcionários da mercearia nunca saberão que ele está ali.
Há um pássaro azul no meu coração que quer sair, mas
eu sou muito duro com ele, eu digo, fica quietinho, você quer me confundir?
quer estragar o meu trabalho? quer arruinar as minhas vendas de livros na
Europa?
Há um pássaro azul no meu coração que quer sair, mas
eu sou muito esperto, só o deixo sair às vezes à noite, quando todos estão
dormindo. eu digo, eu sei que você está aí, então não fique triste.
Depois o coloco de volta, mas ele canta baixinho,
aqui dentro, não o deixo morrer completamente e dormimos juntos assim com o
nosso pacto secreto e é agradável o suficiente para fazer um homem chorar, mas
eu não choro, e você?
Charles Bukowski
– do livro “LAST NIGHT OF THE EARTH POEMS (1992)”
Comentários
Postar um comentário