Desabafo sobre a solidão

A fascinante contradição de 'Morro dos Ventos Uivantes': Uma Leitura além do óbvio

A fascinante contradição de 'Morro dos Ventos Uivantes': Uma Leitura além do óbvio


Em 30 de julho de 1818, Emily Brontë nasceu, mas infelizmente, apenas trinta anos depois, ela faleceu de tuberculose. Seu leito final era notavelmente estreito, medindo apenas dezesseis polegadas de largura (embora essa descrição possa não contar toda a história). 

Em seu breve tempo aqui, ela presenteou a literatura inglesa com uma obra-prima, um romance que transcendeu eras para se tornar um clássico duradouro.

 Indicado por nomes renomados como Ernest Hemingway, Joan Didion e Henry Miller, o livro também emprestou seu título a poemas de Sylvia Plath e Ted Hughes, embora haja quem não compartilhe do mesmo apreço por esta notável criação.

"Wuthering Heights"/ “Morro dos ventos uivantes” é uma obra singular, desafiando todas as críticas convencionais. Iniciar sua leitura é um mergulho inescapável, e uma vez imerso, é igualmente difícil desvincular-se dela sem ser cativado a compartilhar impressões. 

Com sua brutalidade, amor selvagem e obsessão, este livro envolve o leitor em um turbilhão de emoções, deixando uma marca definitiva que transcende as fronteiras da experiência literária convencional.

     Eu o li a primeira vez em Inglês, com a turma de “Advanced class” na qual eu ministrava aulas há muitos anos atrás, e só esse ano eu o li novamente, agora em português. Posso começar dizendo que é verdadeiramente impossível mergulhar nas páginas deste livro sem reconhecer, de maneira marcante, os méritos desta obra.

Contudo, irei resistir à tentação de descrever minuciosamente a trama dessa produção dramática, que sem dúvida merece tal atenção, mas revelar seus detalhes seria privar muitos leitores da metade do prazer que aguarda ao adentrar as páginas de "Wuthering Heights"/ “Morro dos ventos uivantes”.

Recomendo vivamente a imersão direta nesta narrativa, onde se desenrolam experiências da infância, juventude, maturidade e velhice, entrelaçadas com todas as emoções e paixões que agitam o coração inquieto da humanidade. 

Que cada leitor desfrute deste deleite tanto quanto eu e expresse gratidão a autora por proporcionar um prazer genuíno e duradouro.

O livro traz detalhes da vida nas altas charnecas do norte da Inglaterra, na qual, ergue-se uma casa rude, Wuthering Heights, cenário desta narrativa que desafia as convenções e desafia o próprio conceito de amor. 

A obra, que envolve os destinos entrelaçados da família Earnshaw e dos Linton, é liderada por Heathcliff, um personagem trágico cujo amor selvagem é ao mesmo tempo brutal e redentor.

“Wuthering Heights” ou em português “Morro dos ventos uivantes” pode ser descrito como: atroz, agressivo e improvável, ainda assim, revela-se uma experiência impossível de começar e não concluir. 

Existe uma dualidade na trama, oscilando entre a crueldade e um poderoso testemunho do amor supremo, mesmo entre seres quase demoníacos.

Ao ler este livro o leitor é confrontado com detalhes chocantes, repulsivos, quase nauseantes, revelando desumanidade, ódio e vingança de natureza diabólica. 

No entanto, logo em seguida, somos agraciados com passagens que testemunham o poder do amor, capaz de prevalecer mesmo sobre formas humanas malignas. 

As mulheres na trama exibem uma natureza estranha, simultaneamente diabolicamente angelical, provocante e terrível, enquanto os homens escapam à descrição convencional, existindo quase como entidades únicas dentro das páginas do livro. 

No entanto, ao chegarmos ao final da história, nos deparamos com uma imagem bonita e tranquila, semelhante a um arco-íris após uma tempestade, transmitindo uma sensação de esperança e renovação.

Por fim, nesses quase 200 anos desde o seu lançamento, escritores notáveis expressaram opiniões divergentes sobre a obra. Virginia Woolf destaca a poesia de Emily Brontë, sugerindo que a autora buscava transmitir uma mensagem que ultrapassava as experiências individuais.

 Alice Hoffman reflete sobre a evolução da percepção de Heathcliff ao longo da vida, enquanto Elizabeth Hardwick explora a complexidade e originalidade que persistem na obra.

Anne Tyler confessa ter dificuldade em apreciar o livro, enquanto Maryse Condé, encantada na juventude, revela sua inspiração para reescrever a história. Cada voz destaca o impacto duradouro da obra, capaz de transcender barreiras culturais e temporais.

Em última análise, "O Morro dos Ventos Uivantes" continua a provocar paixões e reflexões, revelando-se uma obra-prima paradoxal que desafia as expectativas e deixa uma marca definitiva nos corações dos leitores.


Nota 1: Wuthering Heights foi inicialmente publicado sob o pseudônimo ambíguo "Ellis Bell", então muitos revisores iniciais acreditavam que era escrito por um homem. Alguns também acreditavam que Currer Bell (Charlotte) e Ellis Bell (Emily) eram as mesmas pessoas. O livro foi publicado pela primeira vez em dezembro de 1847.

Nota 2: Gostei muito do comentário de Alice Hoffman, por isso vou replica-lo na íntegra aqui, já que não poderia concordar mais; “Emily Brontë, autora do maior romance psicológico já escrito, com o personagem mais complexo já concebido. Leia "Wuthering Heights" quando tiver 18 anos e você pensará que Heathcliff é um herói romântico; quando tiver 30, ele é um monstro; aos 50, você verá que ele é apenas humano. 

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